
Esta tarde enquanto ia subindo e descendo os dois lances de escadas que conduzem à sede do ICIA, no primeiro andar da Casa das Artes, em Portimão, carregando em cada subida uma das 12 caixas acabadas de entregar pela transportadora, contendo cada caixa 42 exemplares da revista “Zeus, o que tudo somado perfaz a tiragem 500 revistas, lembrei-me que Manuel Teixeira Gomes, o ex-Presidente da República, escritor e intrépido viajante portimonense que homenageamos na revista, nas suas viagens de vapor pelo Mediterrâneo – como relata a Maria Da Graça Ventura numa crónica que integra a revista – levava sempre consigo uma” mala grande”, a “Never Break”, que “sendo comodíssima, pela disposição interior, permit(indo), quando se abr(ia), usar dela como se fosse um guarda-roupa de moderna construção, (mas que) t(inha) no entanto seus inconvenientes sobretudo nas viagens por países pouco habituados a ver semelhantes fenómenos. Imponente no aspecto, desafia(va) a codicia dos carregadores, vazia, o peso (era) respeitável, e cheia, como anda(va), ultrapassa(va) os cem quilos que um homem forte já com dificuldade carrega(va) às costas (…).
“Disposto a meter a unha só pelo aspecto” e pela leveza e sustentabilidade de um exemplar da revista que a codicia me tinha feito retirar de um dos caixotes, imaginei-me um daqueles carregadores a quem Teixeira Gomes pagava para alombarem com a mala, mas logo constatei que “não ha(veria) dinheiro que (me) pag(asse) a penosa empresa de transportar, como um Atlas, aquele mundo esmagador” contido nas 186 páginas de cada exemplar, o que, multiplicadas pelas 42 revistas de cada caixa, dá 7.812 páginas que, por sua vez, multiplicadas pelas 12 caixas, perfaz um esmagador total de 93.744 páginas de papel de insustentável leveza, cheia de mundos reais e outros imaginados, uns e outros verdadeiros, navegáveis por quem quiser embarcar numa revista à qual demos o nome do cargueiro holandês que numa tarde de dezembro de 1925 zarpou da doca dos submarinos, em Lisboa, rumo a Orão, na Argélia, soltando da “gaiola dourada” um presidente “dandy”.
Não temam, porém, apesar dos 12 quilos de peso de cada caixa que eu alombei escadas acima, que multiplicados pelas 12 caixas totalizam 144 quilos, ultrapassando o peso da mala grande de Teixeira Gomes, porque a revista que vocês hão-de levar para casa, quando no sábado, a partir das 17h30m, cruzarem a Linha de Sombra, na Cinemateca Nacional e embarcarem comigo e com o António Cabrita na “Zeus”, não pesará mais do que umas leves 268 gramas, um peso sustentável para viajantes sedentários.
Esta a primeira tripulação capitaneada por nós na “Zeus”: Maria Da Graça Ventura, Carlos Osório, Carlos Oliveira Santos, Carmen Yáñez, Dinis H. Machado, Elsa Martins, Fausta Cardoso Pereira, Florindo Mudender, João Porfírio, Luís Filipe Sarmento, Luís Serpa, Maria Cantinho, Mélio Tinga, Paulo José Miranda e Pedro Teixeira Neves.
Embarquem vocês também, e como “verdadeiros viajantes [de Baudelaire]/ os únicos que partem/ Por partir; leves, como balões/ Nunca se afastam do seu destino,/ E sem saber porquê, dizem sempre: Vamos!”